terça-feira, 26 de maio de 2015

Ser de esquerda

Ser de esquerda não significa uma única e endurecida forma de pensar, de ser, e de perceber o mundo. Ser de esquerda significa muitas coisas, alguns tentam criar uma espécie de máscara, de rótulo, de receita ou bula, como se ser de esquerda fosse exatamente seguir à risca algum receituário ou alguma estrutura linear e inquebrantável de ideologia. Como dito antes, ser de esquerda significa muitas coisas, entre elas buscar ser libertário, sempre com responsabilidades sociais e humanas, buscar uma justiça social, não significa distribuir a miséria e a pobreza, ao contrário significa distribuir a riqueza, não significa por fim aos meios de produção, mas significa dar fim social e humano a estes meios, significa por fim ao dono do capital, significaria algo como “cooperatizar” todos os meios de produção e serviço (significa distribuir os ganhos por todos, pode significar até manter algum conceito de livre mercado, mas as fábricas e prestadores de serviço estariam trabalhando pelos seus pares, e não para enriquecer o dono do capital), significa educar plenamente a todos, não a uma elite, significa dar tratamento jurídico, e médico, a todos, com o mesmo nível de qualidade. Ser de esquerda significa desejar um bem-estar humano e social a todos, indistintamente. Não significa doutrinar o mau gosto, ou abrir mão do que se gosta, desde que o que se gosta tenha algum fim humano e social. Ser de esquerda não significa abdicar de saborear o que se gosta, de assistir e se divertir culturalmente. Uma pessoa humana de linhas e pensamento de esquerda é tão humano como outro qualquer, pode gostar de cinema, de refrigerantes, de hambúrgueres, de passear, e isto não o faz menos de esquerda. Ser de esquerda não significa aceitar o crime, aceitar a não corresponsabilidade com a produção, com a segurança, ou com o bem estar social de todos, pelo contrário, significa dar responsabilidades e deveres sociais a todos, e quem não se enquadrar deve ser primeiro motivado a fazê-lo, pelo bem de todos, por educação, por aconselhamento, por meios que o façam se sentir importante e valorizado na sociedade, me permitam, social (ser de esquerda significa valorizar o humano, o natural e o social), e se me mesmo assim, infelizmente, alguém não quiser participar da produção, ou da manutenção da sociedade, deve ser de alguma forma tratado como um ser não social. Ser de esquerda não significa por fim aos cursos superiores, um mundo de esquerda continua plenamente necessário de médicos, engenheiros, professores, advogados, cientistas, químicos, biólogos, matemáticos, psicólogos, comunicadores, repórteres, e de todas as demais profissões, por isso os cursos técnicos, superiores e pós superiores devem ser aprimorados pelo bem coletivo. Ser de esquerda não significa que seja desnecessário um setor público de segurança, ele é necessário, mas é também dar um fim social a ele. Infelizmente uma sociedade de esquerda também precisa de forças armadas, e assim também ela, como a força policial deve ser bem preparada, bem equipada e bem valorizada, como aliás deve todo e qualquer ente em um mundo de esquerda, desde que enquadrado como um ser que tem de ter sua parcela de participação ou produção neste meio. Ser de esquerda passa por garantir cidades e sociedades igualitárias socialmente, passa por manter cidades, bairros e ruas limpos e salubres, passa por garantir dignidade humana e social às cidades, sempre pelo bem-estar humano. Ser de esquerda significa muitas coisas, para uns um pouco mais disto, para outros um pouco mais daquilo, e para alguns, pode significar mesmo um mundo onde a filosofia anárquica pudesse ser plena. Ser de esquerda significa dar bom uso, pleno, e social para tudo, significa mais valorizar o humano, o natural, e social, do que a maioria pensa. Não significa ser um mundo de santos, mas significa um controle social natural de todos sobre todos, sem retirar a liberdade plena de cada um ser cada um, desde que este meu cada um não implique em sofrimento, exclusão, preconceitos, exploração, ou qualquer mácula para com o humano, o social e o natural. Tenho claras vertentes de esquerda, isso não significa que não aprecie desde um refrigerante de cola ou mesmo um vinho, que não goste de um bom churrasco, que não aprecie esportes, que não curta meu rock, que não dê valor ao conhecimento, pelo contrário exatamente porque aprecio isto, e não vejo mal social algum nisto, é que como de esquerda desejo que todos possam ter acesso pleno e social a tudo isto, desde que cada um faça a sua parte para manter o bem estar coletivo, e o desenvolvimento pleno da humanidade, assim, devendo ser ele um elo produtivo na cadeia global que permita o aprimoramento do próprio social, e o próprio desenvolvimento social, além da consciente aplicação social de tudo e de todos, desde as moradias, até a produção e os serviços. Eu não falei que ser de esquerda seja fácil, e nem que a construção de um mundo justo de esquerda seja também fácil, não, não é, passa por desapegos individuais, passa pelo fim da riqueza individual e familiar, passa por um estado político, legal, e econômico de difícil transição, mas é possível chegarmos lá, entretanto passa primeiro por uma conscientização, comprometimento, e transformação individual, colocando a empatia e coletivo acima dos meus interesses. O significado de um estado forte, não significa um estado ditatorial, este é um desafio com certeza, mas possível, significa um estado forte, com decisões coletivas e descentralizada, significa maior participação coletiva nas decisões uma vez que o intuito final de uma sociedade de esquerda é o bem social, e ninguém melhor do que eles próprios participarem diretamente e ativamente das decisões que os afetem, em qualquer nível. Ser de esquerda é ter a certeza que a tal da utopia não é tão utópica assim, que é possível, que é factível, e que não significa penalizar o humano, ou oferecer um mundo de carências, pobrezas e sofrimento, como um mundo social. 
Enfim, ser de esquerda também é uma condição relativa, ser de esquerda em relação a que? Posso ser de esquerda em relação a uma postura, e não ser em relação a outra. Apenas como exemplo, sou de esquerda em relação ao PSDB, mais de esquerda ainda em relação ao PP, muito menos de esquerda ainda em relação ao PSOL, mas mesmo em relação ao Psol, em alguns itens sou mais de esquerda do que ele, e passo a ser de direita (relativamente a postura do PSOL em alguns itens) em relação a outros. Não existe, a menos do estado anárquico total, uma esquerda absoluta, por isso ser racional, ser analítico, e ser crítico é importante na busca de um social mais pleno e justo, não existem fórmulas ou receitas predefinidas, fuja delas, ser de esquerda é apenas desejar o que leve e valorize um bem-estar humano, natural e social, de todos, e em escopos mais reduzidos do maior número possível de seres viventes..

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Seres pensantes ou apenas seres egoístas e (in)sociais.

Se somos, todos os seres humanos, seres pensantes, para que o ambiente social e o sentido de humanidade estejam tão sem valor, no mínimo devemos pensar que somos o máximo, e no máximo devemos pensar que somos deuses feitos homem, ou que deus está no controle e sabe o que está fazendo. Nada mais fácil para que lavemos as mãos e retiremos de nossos ombros quaisquer máculas ou sobrepesos por alguma responsabilidade pelo que aqui está, pelo que o social, ou melhor, o (in)social, é. Também é fácil culpar os políticos, o estado, os empresários, eles tem sim grande parcela de culpa, mas no fundo as responsabilidades são de todos nós, uns pelo que fazem para que seus interesses pessoais tenham valor de verdade, outros pelo que se omitem, outros mais pela cegueira de bons olhos como se portam frente a desumanidade crescente. A vida em si perdeu seu valor, parece que cada vez mais o que conta são as posses, os prazeres, o imediatismo, a satisfação pessoal de seus desejos e interesses, e desta forma o viver social se perdeu também. Não sou ingênuo, e sei que exatamente como existem empresários maus, políticos maus, pessoas comuns de índole má, existem também pobres e miseráveis de índole má, e também alguns menores que podem ter esta mesma índole (mas que não é o padrão, e que são, estas crianças e jovens condicionados e levados de roldão, muitas vezes, pela situação social que vivem), e o que eu espero é exatamente o mesmo tratamento policial, e de justiça a todos eles, diga-se um tratamento digno e humano, e não um tipo de tratamento para os pobres e miseráveis, e outro tipo de tratamento para os políticos, os empresários, a classe média alta e os ricos. O nosso egoísmo cresceu tanto, que perdida a sensibilidade humana ao longo do tempo, nos cegamos para as causas de muitos jovens estarem sendo perdidos para o crime, ou estarem cada vez mais distantes do respeito à vida, aliás o que não é apenas uma condição da juventude mais pobre, hoje ricos e pobres estão se distanciando naturalmente do respeito e da empatia humanas. No fundo, nós mesmos estamos aterrorizados com causas que também são culpa nossa, mas preferimos não pensar nisto, e passamos a defender o máximo de prisão, e se possível de menores que de alguma forma, independente dos motivos que os levam a terem uma visão da vida como têm, passam a ser risco para nossa vida e nossas posses. Não paramos para pensar que um número imenso de crianças e jovens, crescem em um ambiente onde o estado apenas existe como mais um repressor, onde estas crianças olham para a sociedade e para o asfalto como um mundo de ilusão, e no qual muito poucas delas poderão tem alguma entrada, que a falácia das oportunidades iguais acabam por excluí-las sempre e cada vez mais. Crianças e jovens que olham para o lado e veem que existe um modo fácil de conseguir “serem” algo, que é o lado errado da humanidade. Crianças e jovens que veem as portas de um emprego digno fechadas para elas, sobrando apenas os subempregos, aqueles em que a classe média, e alta, não possuem nenhum interesse, e que percebem no crime e no tráfico uma porta para um “trabalho”. Ao invés de focarmos nossas energias forçando alguma transformação desta realidade, acabamos por inúmeras razões, achando certo que se eliminem os riscos, ao invés de transformar as causas que geram estes riscos. Não nos interessa se as cadeias, ou as penitenciarias, acabam por serem mais desumanas ainda com eles, se acabam por aprofundarem o sentido de raiva para com a sociedade, se estão superlotadas sem o mínimo de condições humanas para alguma recuperação, isto não nos interessa, isto é invisível aos nossos olhos, o importante é mantê-los longe de nós, presos, afastados, se possível para sempre (porque correr o risco de alguma recuperação imperfeita?), pois assim nos sentimos mais seguros, mas nos esquecemos que prendemos um, mas a origem da geração de pessoas não ajustadas à sociedade continua a todo vapor, a realidade social continua desumana, e talvez até crescendo em desumanidade, e assim novas crianças e jovens são aliciadas para o “lado errado da força”, para o crime e para o tráfico, e a bola de neve da perda do sentido de respeito à vida e da valorização do humano continua se perdendo continuamente.

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Sou

Eu sou um cara da terra,
Não sou um cara dos céus.

O céu não tem cara,
Mas encara,
Com a mesma cara,
Que a ele encaramos
Simplesmente porque é ele o reflexo
Do que pensamos
E do que sentimos.

Sou natural.
Sou material.
Sou imanente.
Apenas transcendente 
Na aparente
Percepção de nossa mente
Que também é da matéria, um ente
Em plena natureza presente.